É comum pensar nos ácidos como substâncias azedas ou corrosivas, mas essas não são as características que definem os ácidos. Por exemplo, o ácido cítrico, presente no limão, tem o gosto azedo, mas não é corrosivo (ainda bem). Enquanto isso, o ácido sulfúrico é bastante corrosivo, de forma que não podemos provar para dizer se é azedo ou não.
Para iniciar a nossa investigação de como definir um ácido, devemos lembrar que o universo não veio rotulado e classificações como ácidos, bases, óxidos, sais são definidas com base em experiências humanas, donde percebemos padrões de reatividade. Ou seja, nosso trabalho é encontrar uma característica em comum entre as substâncias para sintetizar as informações.
Imagine: como seria a química sem as noções de acidez e basicidade? Teríamos que decorar todas as reações que hoje temos a noção de serem ácido-base.
Com o intuito de classificar as substâncias e componentes na natureza, os antigos gregos dividiam os compostos de acordo com os sabores: azedo, salgado, doce ou amargo. Como vimos, essa não é uma boa ideia na química.
Uma dose de etimologia
A palavra ácido vem do latim "acere", que significa "tornar azedo", e que por sua vez surgiu do grego "oxein".
Já na Idade Média, acredita-se que o tornassol foi utilizado pelo alquímico Arnaldus de Villa Nova como teste para ácidos e bases. Isso porque o Tornassol tinha sua coloração mudada em meio ácido: tornava-se vermelho. Além disso, uma característica comum entre os ácidos é que eles tinham poder de corroer os metais, como ferro e zinco.
Diante disso, em 1776, Lavoisier ao tentar organizar as substâncias em classes, chamou o elemento comum em todos os ácido de “oxy-gen” , ou “gerador de ácido”, que hoje em dia é o oxigênio (Lembre-se da origem grega da palavra).
Porém, o elemento que Lavoisier pensou e denominou como intrínseco aos ácidos não estava em todas as substâncias ditas ácidas, como demonstrado por Humphry Davy anos depois.
Retomando a ideia de Lavoisier de que algum elemento era comum aos ácidos, Justus von Leibig (1803-1873) propôs que na verdade era o hidrogênio o responsável pela acidez.
Vale ressaltar que entre toda essa discussão de como definir ácidos, as bases ou álcalis eram substâncias que neutralizavam os ditos ácidos.
A teoria ácido-base de Arrhenius
A ideia de Svante Arrhenius era fruto de seus estudos com a teoria da dissociação eletrolítica, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Química em 1903. Sua teoria dizia que certas substâncias permaneciam como íons em solução. E a condutividade elétrica da solução era relacionada com a velocidade em que os íons em solução se movimentam pelo líquido devido a força elétrica.
Essa teoria explica o porquê a água pura e sais, de estrutura cristalina, não conduzem eletricidade, mas algumas soluções sim, como demonstrado na imagem abaixo.
Medidas relativas com ácidos mostraram que os “quimicamente” fortes também eram os com maior condutividade, então, Arrhenius assumiu que moléculas quimicamente ativas também são eletricamente ativas. Assim, soluções ácidas deveriam ter partículas ionizadas.
“É por isso que é possível guardar ácido sulfúrico concentrado (sem água) em um recipiente de ferro, mas isso seria impossível se fosse ácido diluído.”
Se o ácido fosse diluído, haveria dissociação do composto na água com formação de íons e então seria possível corroer o metal.
Por essas e outras evidências, uma teoria ácido e base surgiu:
“Ácidos são os compostos que em solução aquosa ionizam-se e geram íons H+ e bases são compostos que em solução aquosa se dissociam liberando íons OH- na solução."
A definição de Arrhenius apesar de ser mais fundamentada não é completa, pois, “amarra” a concepção de ácido a um composto que gera algo reativo e além disso considera a água como único solvente possível.
Veremos em próximos capítulos as teorias de Bronsted-Lowry e Lewis, as quais abrangem mais compostos e dão melhores noções de reatividade.